sábado, julho 04, 2009

Ilusão

Palavra que tem me acompanhado nos últimos meses, nos últimos dias ficou evidente, e nas ultimas horas me sufoca os olhos. Ilusão, rima perfeita para solidão. Sei bem mais do que gostaria, que toda minha ilusão deriva da solidão do meu coração. Não sofro de amores, não me deixo viver a espera de um novo, ou velho amor, mas sei bem que um coração sozinho sempre, inocentemente, se abre para uma oportunidade de ser acariciado.
Basta um toque, bastou um beijo surpreendente, um olhar meio descompromissado de ser fiel, e um pedido de proximidade, pra um velho coração tornar-se rubro. De vergonha, de emoção, de compaixão, e de ternura descompromissada com o tempo.
Sei que poetas, músicos e escritores medíocres, como eu, diriam que é assim que nasce uma paixão, um amor. Mas as palavras de um jovem tolo trepidam em meus ouvidos por longos anos sem se calar: “Deixe-me iludir-me, pois só assim sou feliz...”
Será então que amor fecunda na ilusão daqueles que desejam ser felizes, e que traem seus discursos de “eu nunca”, de “comigo não”, de “eu sei como termina”? Impossível responder com certeza plena, mas fácil, de mais uma vez reafirmar: Só os bons são capazes de amar (Gostar, querer bem, se dedicar).
Ainda não sei se estou a iludir-me, creio que sim.
Ilusão sim, mas cegueira não... Ainda que não haja como dizer com certezas o que um outro sente, nota-se que um outro sabe bem que ao dizer não, nega somente ao que já está sendo vivido e temido, e a ilusão torna-se a negação do que pede um coração.

O Hotel

Era um lugar de sonho, corredores emaranhados num labirinto que saltava beleza aos meus olhos. Mas abri os olhos em meio à multidão estranha que passava por mim, por vezes me olhavam rápido enquanto ouvia musicas reproduzidas pela pulsação agitada do meu cérebro. O tempo passava rápido demais, e a estrada me aguardava. Temia que não chegasse a hora de embarcar, embora agora saiba, que inconsciente ansiava para que não chegasse, excitação chamada medo. Suava muito.
Embarcado, queria rir... Qual outro ser desprovido de amor a si próprio se lança numa estrada escura sem saber voltar? Mas a alegria dos desconhecidos me acalmava e me irritava. Agora o frio, e a estrada escura, tentava descansar, dormir quem sabe... O vento frio, muito frio, quase uma língua estranha que sussurravam as pequenas luzes laranja ordenadas como um mapa em meio ao breu.
Uma hora passada, viagem terminada. “Estou chegando, me aguarde um instante...” e vieram os corredores do hotel, que se transformaram em ruas... Avenidas... Rodovias sem iluminação. Onde estão todos? Há quanto tempo estou aqui? De onde vem tanto frio? Uma hora e quarenta minutos... Poderia ter voltado pra casa... Eu quero voltar pra casa.
Chegou. Sem rosto de problemas, sem pressa aparente. Muita gente, sinto vontade de dizer meu nome bem alto, de sorrir o sorriso lindo que possuo, mas eles me repreendem com olhos que não cruzam os meus. Meu brio inflama e explode quando anjos me reconhecem e repetem meu nome em voz alta reluzindo meu brilho que apaga a miudeza do que há em volta!
E o hotel me aguarda...
Meu nome se repete como uma bateria trepidante em meus ouvidos enquanto caminho hotel adentro com os olhos brilhantes, bêbados de mim! E agora sou incômodo, pois sou maior, pois sou vivido! Pois tenho nome, e sou inatingível...
Não dormi no hotel, apenas aguardei a luz quente da manhã para que tivessem a certeza do que eu realmente sou. E ela veio... Quente, brilhante, sorridente e me mostrou o caminho, para onde fui mandado de volta sem pena, sem remorso...

(Confissão antiga, guardada entre os restos do passado...)